sexta-feira, 1 de março de 2013

Petroselina


Tradução do conto “Petrosinella”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez uma mulher grávida chamada Pascadósia. Um dia, ela se debruçou na janela que dava para o jardim de uma ogra e viu uma bela plantação de salsinha, e ficou com um desejo tão grande de comer aquela salsinha que quase desmaiou. Até que, não conseguindo mais resistir, e espiando a ogra sair de casa, foi até lá e colheu um raminho. Mas quando a ogra voltou, foi colher salsinha e percebeu que alguém havia passado por ali, e disse: – Que me caia o osso do colo se eu não descubro esse ladrão e o faço se arrepender, para aprender a não pegar o que não é seu. – Mas, como Pascadósia continuou indo à horta, uma manhã, ela foi surpreendida pela ogra, que, furiosa, disse-lhe: – Peguei você, sua ladra! Talvez devesse pagar pelo aluguel desta horta, a qual vem sem escrúpulos para pegar as minhas ervas? – Pascadósia começou a se desculpar, dizendo que não foi por gula ou inveja que ela cometeu esse pecado, mas porque estava grávida, e estava com medo que o bebê nascesse com cara de salsinha, e deveria ainda agradecer por não ter recebido nem mesmo um terçol.
 – Basta com essas palavras! – respondeu a ogra. – Você não vai me fazer cair nessa sua conversa mole. Sua vida chegará ao fim se não me prometer que me dará a criatura que irá parir, menino ou menina que seja.
A pobre Pascadósia, para fugir do perigo imediato, fez essa promessa a ela, e assim a ogra a deixou partir.
Quando chegou o momento do parto, nasceu uma menina tão linda, que era uma pequena joia, e por ter no peito um raminho de salsinha, foi chamada de Petroselina. A garota foi crescendo dia após dia e, quando fez 7 anos, a mãe a mandou até sua professora. Todo dia, no caminho para lá, ela encontrava uma ogra, que dizia: – Diga a sua mamãe para lembrar-se da promessa! – E tantas vezes repetiu isso que a pobre mamãe, não suportando mais essa mesma história, uma vez lhe disse: – Se encontrar essa velha e ela lhe falar dessa maldita promessa de novo, responda-lhe: “Pegue-a!”
Petroselina, que não sabia da promessa, ao encontrar a ogra que lhe repetiu a mesma frase, inocentemente respondeu o que lhe foi dito por sua mãe, e a ogra, pegando a garota pelos cabelos, levou-a até um bosque no qual não entravam nunca os cavalos do Sol, e ali, no meio da sombra, trancou-a em uma torre, que fez surgir com mágica, sem portas, sem escadas, com uma única janela, por meio da qual, agarrando os cabelos de Petroselina, que eram muito longos, a ogra subia e descia.
Um dia, quando a ogra não estava na torre, Petroselina pôs a cara para fora daquele buraco e estendeu as tranças ao sol. Nesse momento, passou por ali o filho de um príncipe que, ao ver as duas bandeiras de ouro, que convidavam as almas a participarem do exército do Amor, e admirando entre aquelas ondas preciosas uma face de sereia, que encantava qualquer coração, se apaixonou por tamanha beleza. E enviando-lhe um sem número de suspiros, foi decretado que a fortaleza se rendesse a sua graça. E o encontro deles andou tão bem que o príncipe recebeu muitos acenos de cabeça em troca de beijos enviados pelas mãos, piscadinhas em troca de reverências, agradecimentos em troca de propostas, esperança em troca de promessas e palavras gentis em troca de comprimentos. A coisa continuou assim por alguns dias, e eles ganharam tanta confiança que decidiram se encontrar mais de perto. Mas isso deveria acontecer de noite, a garota daria um sonífero à ogra e o puxaria com seus cabelos.
Após decidido isso, na hora combinada, o príncipe chegou à torre e deu um assobio para Petroselina jogar suas tranças, agarrou-as com as duas mãos e disse: – Puxe! – E, ao subir, entrou pela janela no quarto, fez um lanchinho com salsa no molho do amor e, antes que o sol nascesse, desceu pela mesma escada de ouro. Isso se repetiu muitas vezes, até que uma comadre da ogra descobriu e, querendo se meter onde não era chamada, disse à ogra para ficar atenta, porque Petroselina fazia amor com um certo jovem e ela suspeitava que a coisa fosse ainda além, porque ouvia os barulhos e via a movimentação ali, e tinha certeza que, se tivessem a oportunidade, desapareceriam dali antes do mês de maio.
A ogra agradeceu a comadre pelo aviso e disse que seria problema seu impedir os planos de Petroselina. Disse também que não seria possível que a garota fugisse porque ela havia lançado um encantamento, e se a garota não tivesse nas mãos três bolotas que estavam escondidas sob o piso da cozinha, seria uma perda de tempo. Mas, enquanto elas conversavam, Petroselina, que estava com o ouvido bem aberto e já tinha suspeitas sobre a comadre, ouviu toda a conversa; e assim que a noite chegou, o príncipe veio como sempre. Ela o fez subir e, encontrando as bolotas, as quais sabia como usar por ter sido encantada pela ogra, fez uma escada de barbante e os dois desceram e começaram a caminhar em direção à cidade. Mas eles foram vistos enquanto saiam pela comadre, que começou a gritar chamando a ogra, e o barulho foi tão grande que ela acordou e, ouvindo que Petroselina tinha fugido, desceu pela mesma escada que estava presa à janela e começou a correr atrás dos namorados.
Os dois, quando a viram chegar perto mais rápida que um cavalo bravo, se sentiram perdidos, mas, lembrando-se Petroselina das três bolotas, jogou rapidamente uma no chão, e eis que surgiu um cão muito terrível que, latindo com a boca enorme aberta, correu atrás da ogra para fazer uma boquinha. Mas ela, que era mais esperta que o diabo, pôs a mão no bolso, retirou um pão e, jogando-o ao cão, fê-lo se calar e acalmar a fúria.
 Ela voltou a correr atrás daqueles que fugiam, e Petroselina, vendo-a se aproximar, jogou a segunda bolota, e apareceu um leão feroz que, batendo a cauda no chão e balançando a juba, com dois palmos de boca escancarada, se preparava para engolir a ogra. Esta, voltando um pouco, arrancou a pele de um burro que pastava em um prado e, vestindo essa pele, correu de novo em direção ao leão que, ao vê-la daquele jeito, ficou com medo e fugiu. Superando esse segundo obstáculo, a ogra tornou a seguir os pobres jovens que, ouvindo os barulhos dos passos e vendo a nuvem de poeira que se erguia até o céu, perceberam que a ogra novamente se aproximava. Ela, por medo que o leão voltasse a persegui-la, não tirou a pele do burro, e quando Petroselina jogou a terceira bolota, surgiu um lobo que, sem dar tempo a ogra de encontrar um novo artifício, engoliu-a como se fosse um burro.
E os namorados, finalmente longe dos problemas, foram caminhando devagar até o reino do príncipe onde, com o consentimento deste, eles se casaram.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A Gata Borralheira


Tradução do conto “La Gatta Cenerentola”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez um príncipe viúvo que tinha uma filha que ele amava muito. A garota tinha uma professora que cuidava dela e lhe ensinava muitas coisas e sempre lhe demonstrava muita afeição.
O pai havia se casado novamente com uma mulher má e perversa, que começou a demonstrar desprezo pela enteada e sempre fazia cara feia e olhares tortos para ela, tanto que a pobre garota sempre se lamentava com a professora sobre o maltrato que sofria da madrasta, e sempre dizia: – Oh Deus, porque não podia ser você a ser a minha mamãezinha, você que gosta tanto de mim? – De tanto repetir isso, uma vez a professora, cegada pela inveja, lhe respondeu: – Se você fizer o que lhe disser esta minha cabeça louca, eu serei sua mãe e você me será sempre cara – Ela ia continuar a falar, quando Zezolla (esse era o nome da garota) disse: – Desculpe-me se a interrompo. Eu sei que você me quer bem, portanto ensine-me o que eu tenho que fazer; você escreve, eu assino.
– Então me escute com atenção – disse a professora. – Assim que seu pai sair, diga a sua madrasta que você quer aquele vestido velho que está dentro do grande baú no porão, para economizar este que você usa agora. Ela, por querer vê-la toda maltrapilha, abrirá o baú e mandará você segurar a tampa enquanto ela procura o vestido. Você irá segurá-lo aberto e, quando ela estiver curvada para dentro revirando as roupas, você deixará a tampa cair com tudo, assim seus ossos irão se quebrar. Após isso, você sabe que seu pai faria de tudo para vê-la feliz, então, quando estiver com ele, peça-lhe para me tomar como sua mulher. Eu serei muito grata a você!
Assim, Zezolla pôs em prática passo a passo o conselho da governanta. Passado o tempo do luto pela desgraça da madrasta, ela começou a dizer ao pai que ele deveria se casar com a professora. No começo, o príncipe achou que fosse brincadeira da filha, mas como ela tanto insistiu, ele acabou ouvindo-a e se casou com Carmosina, a professora, e fez uma grande festa.
Enquanto os noivos estavam na festa, Zezolla foi até um terraço e viu uma pombinha sobre o muro, e esta lhe disse: – Se você precisar de qualquer coisa, peça-a à pomba das fadas da ilha de Sardenha e a terá logo.
A nova madrasta, por cinco ou seis dias, encheu Zezolla de carinho, deixando-a sentar no melhor lugar da mesa e dando-lhe os melhores vestidos. Mas, passado algum tempo, totalmente esquecida do favor que havia recebido da garota, começou a falar das suas seis próprias filhas, que até então havia mantido em segredo. Tanto insistiu com o marido que este recebeu as enteadas com muito amor, esquecendo-se de sua própria filha.
A garota passou a ir apenas do quarto para a cozinha e da pia ao fogão. Suas roupas de seda e ouro se transformaram em trapos. Até seu nome mudou, de Zezolla passou a ser chamada de Gata Borralheira.
Um dia, o príncipe teve que ir à Sardenha, então ele perguntou às suas seis enteadas o que elas queriam que ele trouxesse de presente. Umas pediram belos vestidos, outras lindos enfeites de cabelo, outras brinquedos para passar o tempo, entre muitas outras coisas. Por último, quase por obrigação, perguntou à filha: – E você, o que quer? – e ela respondeu: – Nada além de que o senhor mande lembranças minhas à pomba das fadas, dizendo-lhe que me mande alguma coisa. E se você se esquecer, não conseguirá ir adiante, nem retornar.
O príncipe foi, resolveu tudo o que precisava, comprou os presentes das enteadas e Zezolla saiu de sua mente. Ao tornar ao navio, por mais que tentasse e mexesse as velas, o navio não saia do lugar. O dono do navio, quase desesperado com o ocorrido, acabou adormecendo e sonhou com uma fada, que lhe disse: – Sabe por que o navio não sai do porto? Porque o príncipe, que veio com você, esqueceu-se da promessa que fez à filha, lembrando-se de todos, menos do seu próprio sangue. – Ele acordou e contou o seu sonho ao príncipe, que, envergonhado por seu esquecimento, foi até a gruta das fadas e, falando-lhes da filha, pediu que lhe mandassem alguma coisa.
Uma bela jovem saiu da gruta e disse que agradecia a filha pela boa memória e que queria que ela soubesse que tinha o seu amor. Então deu-lhe uma tâmara, uma enxada, um balde de ouro e uma toalha de seda, dizendo que um era para germinar e os outros, para cultivar a planta. O príncipe, maravilhado com esses presentes, voltou à sua casa, deu às enteadas tudo o que elas queriam e depois entregou à filha o presente da fada. Muito feliz, ela plantou a tâmara em um belo vaso, cuidou dela, regou-a e com a toalha de seda enxugava-a de manhã e a noite. Em quatro dias a planta cresceu e ficou do tamanho de uma mulher, e uma fada saiu de dentro dela dizendo: – O que deseja?
Zezolla respondeu que queria sair de casa algumas vezes, mas não queria que as irmãs soubessem. A fada respondeu: – Sempre que precisar, venha até este vaso e diga: “Tamareira minha dourada, com a enxada de ouro te plantei, com o balde de ouro te reguei, com a toalha de seda te enxuguei, despe a ti e veste a mim!” E quando quiser voltar, mude o último verso, dizendo: “Despe a mim e veste a ti!”
Assim, chegando um dia de festa e estando as filhas da governanta todas arrumadas e cheirosas, Zezolla correu até o vaso e, ao dizer as palavras ensinadas pela fada, ficou arrumada como uma rainha e foi colocada em uma carruagem com doze pajens, e seguiu até onde estavam as irmãs, que ficaram com inveja da bela moça que viram. Mas, como era a vontade da sorte, o rei também estava lá e ficou encantado com a extraordinária beleza de Zezolla. Ele pediu ao seu empregado mais leal que descobrisse quem era aquela bela moça e onde vivia. O empregado começou a segui-la quando ela estava indo embora, mas ela, percebendo, jogou algumas moedas de ouro que havia pegado da tamareira para esse propósito. Ao ver o ouro, ele se esqueceu de segui-la para encher o bolso. Ela voltou para casa, despiu-se e esperou as irmãs voltarem. Estas, para deixá-la com inveja, contaram sobre todas as coisas maravilhosas que haviam visto. Enquanto isso, o empregado foi até o rei e contou sobre as moedas. O rei, furioso com ele, lhe disse que, a qualquer custo, na próxima festa ele teria que descobrir quem era aquela jovem e onde vivia.
Chegou a outra festa e as irmãs, muito arrumadas, saíram deixando Zezolla no fogão. Ela correu até a tamareira e, ao dizer as mesmas palavras, saíram várias fadas da planta, uma com um vestido, outra com uma coroa, outra com um pente, outra com um colar, e outras ainda com várias outras coisas. Deixaram-na linda como o sol e colocaram-na em uma carruagem com seis cavalos, um cocheiro e alguns pajens. Chegando à festa, ela incitou maravilhas ao coração das irmãs e fogo ao peito do rei. Mas, ao ir embora, o empregado do rei a seguiu novamente, e para que ele não a alcançasse, ela jogou algumas joias e pérolas, e o homem parou para pegá-las, pois não eram coisas para se jogar fora. Assim, ela teve tempo de voltar a sua casa e de despir-se. O empregado voltou até o rei, que lhe disse: – Pelas almas dos mortos, se você não encontrá-la, você será um homem morto!
Chegou a terceira festa e, assim que as irmãs saíram, ela foi até a tamareira e, novamente dizendo aquelas palavras, foi vestida maravilhosamente e posta em uma carruagem de ouro com muitos servidores. Na festa, causou muita inveja às irmãs e, quando foi embora, o empregado do rei a seguiu e estava quase alcançando-a. Ao vê-lo sempre perto, ela mandou o cocheiro correr, e a carruagem correu com tanta fúria que um sapato escapou de seu pé. Não se podia ver uma coisa mais bela. O empregado, que não conseguiria alcançar a carruagem que voava, pegou o sapatinho do chão e o levou ao rei, contando-lhe tudo. O rei, ao pegar o sapatinho, disse: – Se a base é assim tão bela, imagine como será a casa! Oh bela dama que prendeu a minha alma em sua rede de amor! – Assim, o rei chamou o escrivão, tocou a trombeta e lançou um aviso dizendo que todas as mulheres do reino deveriam ir à festa que ele daria e ao banquete.
Chegou o dia, e que grande banquete foi preparado! Vieram todas as mulheres, jovens e velhas, bonitas e feias, ricas e pobres, e o rei experimentou o sapatinho no pé de todas elas, uma por uma, para tentar descobrir a quem ele pertencia. Mas o sapatinho não servia em nenhum pé. O rei começava a ficar desesperado e disse: – Quero que todas voltem amanhã, e se me querem bem, não deixem nenhuma mulher em casa, seja ela quem for!
Então o príncipe disse: – Eu tenho uma filha, mas ela está sempre no fogão e não merece sentar-se a mesa com vossa majestade.
– Que essa seja a primeira da lista – disse o rei.
No outro dia todas voltaram, e junto com as filhas de Carmosina veio Zezolla. Assim que o rei a viu, desconfiou que aquela fosse a moça que procurava. Após o banquete, veio a prova do sapato que, assim que se aproximou do pé de Zezolla, quase que pulou sozinho ao pé da moça. Ao ver isso, o rei correu para abraçá-la e colocou uma coroa em sua cabeça, dizendo a todos que deveriam reverenciá-la como sua rainha. As irmãs viram essa cena e ficaram com muita raiva, não conseguiram suportar a inveja de seus corações e fugiram de volta para a casa da mãe.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Mirto


Tradução do conto “La mortella”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez um casal que não tinha filhos. Eles desejavam muito um herdeiro, de qualquer forma, por isso a mulher sempre pedia: – Oh Deus! Como eu queria dar à luz! Não me importaria nem se fosse um ramo de mirto! – E a mulher repetiu tanto essas palavras e pediu tanto aos céus por isso que, um belo dia, ela engravidou. Sua barriga cresceu e, nove meses depois, ela deu à luz, não uma criança, mas um belo ramo de mirto, repleto de lindas flores. A mulher plantou-o em um vaso todo enfeitado, colocou-o na janela, e regava-o com muito amor e carinho todas as manhãs e todas as noites.
Um dia, o príncipe passou em frente à casa da família e ficou maravilhado com o belo mirto. Pediu à mulher que lhe vendesse a planta, e disse que pagaria muito bem por ela. A mulher recusou a oferta, mas tão grande foi a insistência do príncipe que, ao final, ela acabou aceitando e vendendo a planta, mas fez o príncipe prometer que cuidaria muito bem do mirto, pois ela o amava como a um filho.
O príncipe, com toda a delicadeza do mundo, levou a planta ao seu palácio, colocou-a em seu quarto e, com suas próprias mão, cuidava dela.
Uma noite, enquanto todos dormiam, o príncipe estava em sua cama quando acordou ouvindo barulho de passos, e percebeu que havia alguém em seu quarto. A princípio, pensou que pudesse ser algum pajem ou, quem sabe, algum espírito brincalhão. Porém, esperto e corajoso como era, resolveu esperar para poder ter certeza do que estava acontecendo ali, assim, fingiu que estava dormindo. A pessoa se aproximou da cama do príncipe e deitou-se ali com ele. Ao tocá-la, ele percebeu que ela tinha uma pele muito delicada e macia envolta em um tecido muito leve e sedoso, e achou que estava na presença de uma fada (e acertou em cheio).
Porém, antes que o sol nascesse, a fada se foi, deixando o príncipe muito curioso e encantado. Isso aconteceu novamente por sete dias, e o príncipe queria cada vez mais entender o que era aquela maravilha que lhe caiu das estrelas, e saber quem era a moça que, cheia de amor, ia até aquela cama. Uma noite, enquanto a jovem dormia, o príncipe acendeu uma luz e viu a jovem mais bela que já vira em sua vida, uma maravilhosa fada. Olhando-a, ele disse: – Oh, que grande beleza! É mais bela que uma manhã de sol, e mais brilhante que a mais rica joia. Não me canso de admirá-la. Que belos olhos, que me queimam, que belo peito, que me consola, que bela mão, que me afaga. Onde a mãe natureza foi capaz de criar esta bela criatura? De qual montanha veio a neve que deu cor a este peito? De qual rosa veio a delicadeza desta pele? Qual estrela emprestou seu brilho a estes olhos?
Ao dizer isso, abraçou-a. Ela acordou com essas palavras e respondeu com um sorriso ao suspiro do príncipe apaixonado. Ele continuou a elogiá-la, dizendo-lhe: – Oh meu bem, se eu já estava maravilhado vendo este templo de amor no escuro, o que será de minha vida agora que o vejo no claro, podendo enxergá-lo? Apenas você conseguiu atravessar este coração, e somente você pode cuidar dele. Tenha piedade de um doente de amor que, por trocar o escuro da noite pela luz dessa beleza, adquiriu uma febre.
Ela ficou vermelha como o fogo e disse: – Não diga isso, príncipe, eu sou apenas uma criada sua, e faria qualquer coisa para servi-lo, e valorizo a grande sorte de poder ter saído de um pequeno ramo de mirto e encontrar um coração tão virtuoso.
O príncipe abraçou-a de novo, pegou suas mãos e disse: – Aqui está você agora! Será a minha mulher, a princesa deste reino, terá a chave de meu coração, assim como tem o timão desta vida! – E seguiram trocando mais belas palavras durante a noite. Eles continuaram assim por mais alguns dias.
Porém, como a sorte é muitas vezes impiedosa com os apaixonados, um dia o príncipe foi chamado para ir à caça de um porco selvagem, que estava causando destruição pelo reino. Assim, teve de deixar a fada sozinha, e com ela, boa parte de seu coração. Ele a amava mais que a própria vida, e a achava mais bela que qualquer coisa bela que pudesse haver no mundo, mas, do amor e da beleza, nasceu uma terceira coisa perigosa, a tempestade que surge no continente do amor e a chuva que molha as alegrias amorosas.
Assim, o príncipe disse a fada: – Meu amor, devo ficar fora por uns dois ou três dias. Deus sabe com qual dor me afasto de você! Os céus sabem como gostaria de ficar aqui. Porém, não posso faltar com as obrigações a meu pai, portanto, devo ir. Por isso peço a você, pelo amor que me tem, para ficar dentro do mirto, e não sair até que eu retorne.
– Assim farei, porque não quero e não posso desprezar aquilo que agrada a você. Por isso, vá com a boa sorte, que aqui ficarei esperando o seu retorno. Mas me faça um favor. Amarre na parte de cima do mirto uma corda, e nela um sino, e, quando você retornar, toque-o que eu saio.
Assim fez o príncipe. Depois, chamou o camareiro e disse: – Venha aqui, ouça bem: quero que arrume a cama toda noite, como se eu estivesse aqui, e cuide do mirto e de suas flores. Se eu voltar e sentir falta de uma única flor, eu mesmo o matarei!
O príncipe montou o seu cavalo e partiu.
Então, sete mulheres invejosas e maldosas, que às vezes recebiam visitas do príncipe, percebendo que ele estava frio e distante com elas e que não aparecia mais, pensaram que ele podia estar com alguma outra. Elas chamaram um pedreiro e deram-lhe muito dinheiro para ele cavar um buraco que saísse no quarto do príncipe. Quando entraram lá, não viram ninguém no quarto, apenas um belo mirto. Cada uma começou a arrancar uma flor, e a mais nova delas puxou a de cima, na qual estava presa a corda, e o sino tocou.
Ao ouvi-lo, a fada, achando que o príncipe tinha voltado, saiu do mirto. As mulheres, ao verem-na, pularam para cima dela dizendo: – Você é aquela que acaba com as nossas esperanças? Você é aquela que conquistou a graça do príncipe? É você que esta agora em posse daquilo que nos pertence? Oh, que você não tivesse tido essa sorte! Agora encontrará a sua ruína!
Assim dizendo, elas bateram em sua cabeça com um bastão e cortaram-na em centenas de pedaços. Cada uma das mulheres recolheu uma parte, apenas a mais nova não quis participar dessa crueldade, mas, ameaçada pelas irmãs de que devia fazer o mesmo que elas, ela recolheu uma mecha dos belos cabelos da fada. Depois disso, saíram do castelo sem que ninguém as visse.
O camareiro foi ao quarto arrumar a cama como o príncipe tinha pedido e, ao ver o desastre que havia acontecido lá, quase morreu de susto e de medo. Ele recolheu os restos de carne e ossos que ainda estavam por lá e, após raspar o sangue do chão, colocou tudo dentro do vaso do mirto. Então ele limpou o quarto, arrumou a cama e, ao sair, deixou a chave embaixo da porta.
Assim que o príncipe voltou da caça, tocou o sino, mas nada aconteceu. Tocou-o novamente, sacudiu-o, para que a fada o ouvisse. Então ele correu ao seu quarto e, ao ver o vaso destruído, começou a gritar: – Ai de mim! Oh trágico destino que me aguardava! Quem me fez este mal? Arruinado e destruído príncipe! Oh meu mirto, despedaçado! Oh minha fada, perdida! Oh minha vida, desgraçada! Que farei agora, infeliz como estou? Perdi tudo o que eu mais amava! Por que não me jogar desta janela? Oh caça maldita, que me levou toda a alegria! Acabou, estou perdido! Estou morto!
Essas palavras, que comoveriam até uma pedra, continuaram. Depois de um longo lamento e muito choro, com muita raiva e sem conseguir fechar os olhos para dormir, nem abrir a boca para comer, ele deixou tanto espaço para a sua dor que foi ficando cada vez mais pálido e doente.
A fada, que tornou a brotar dos restos que ficaram no vaso, vendo a dor de seu amado e seu rosto pálido, se encheu de compaixão e saiu do vaso, como uma luz surgindo na escuridão, surpreendendo o príncipe.
Ela o abraçou e disse: – Acalme-se, meu príncipe! Não chore! Aplaque essa raiva. Aqui estou eu, viva e bela, a despeito daquelas mulheres más que, batendo-me na cabeça, acabaram com minha carne.
O príncipe, vendo que ela estava viva, sentiu a vida voltar-lhe ao coração. Após muitos abraços e carinhos, ela lhe contou tudo o que havia acontecido. O príncipe percebeu que o camareiro não tinha culpa, então chamou-o e ordenou que ele fizesse um grande banquete. Com o consentimento do pai, o príncipe casou-se com a fada. Para o banquete, convidou todos do reino, e fez questão que aquelas sete mulheres estivessem presentes.
Após o banquete, o príncipe perguntou a todos: – O que mereceria alguém que fizesse mal àquela encantadora jovem? – apontando a fada, que era tão bela e tocava o coração de todos. Um dizia que essa pessoa mereceria a forca, outro, que deveria ser torturado, outro, que deveria ser jogado de um precipício, e várias outras penas também foram citadas. Por último, chegou a vez das mulheres responderem, por mais que não gostassem dessa conversa, e elas disseram: – Quem tivesse coragem de fazer mal a esse amor mereceria ser enterrado vivo no fundo de um esgoto.
– Pois então, vocês causaram o mal e vocês mesmas deram a sentença! Basta apenas eu dar a ordem para que ela seja cumprida! Pois vocês são aquelas que fizeram mal a esta bela criatura e destruíram a carne destes belos membros – respondeu o príncipe. – Agora, não percamos mais tempo, que vocês sejam jogadas no fundo de um esgoto, onde terminem miseravelmente a vida!
A sentença foi logo cumprida com as seis mulheres que haviam feito aquela crueldade, e o príncipe casou a irmã mais nova delas com o camareiro. Depois, os pais do mirto se mudaram para o palácio, onde viveram muito bem, e todos ficaram muito felizes.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pentamerone

Todos nós conhecemos várias versões diferentes das mesmas histórias. Quando se trata de contos de fadas, parece que há mais versões ainda. Os contos de fadas são histórias populares que circulam pelo mundo há centenas de anos, e é claro que, com o passar do tempo e as mudanças no mundo e na sociedade, essas histórias sofrem mudanças.
Em sua origem, os contos de fadas não eram apenas essas histórias bonitinhas com finais sempre felizes. Havia mortes, sangue, maldades e muitas outras coisas que nunca seriam admitidas em um desenho da Disney. Isso porque a sociedade era diferente, a ideia do que era ser criança era outra e essas histórias não eram tidas como coisas de crianças, mas histórias para todos (você encontra mais sobre esse tema nesse post aqui)
Quando se pensa na origem dos contos de fadas, muita gente lembra logo dos irmãos Grimm, ou de Andersen, que recolheram várias histórias e as publicaram no século XVIII ou XIX. Mas existem versões publicadas bem antes desses escritores nascerem.
Em 1634, foi publicado na Itália um livro chamado Pentamerone (ou o conto dos contos). Esse livro foi escrito por Giambattista Basile, mas ele também apenas reuniu contos já existentes na cultura popular. Esse livro reúne 50 contos de fadas; entre eles, podemos encontrar algumas histórias que são famosas hoje em dia (como Cinderela, mas de uma forma totalmente diferente das atuais) e outras que muita gente nunca ouviu falar.


Em breve, estarão aqui alguns desses contos. Eles não são muito indicados para as criancinhas de hoje em dia, mas são histórias muito diferentes e interessantes, e vale a pena conhecê-los.

Quem se interessar em ver os livros originais, pode encontrá-los nesse site: http://archive.org/search.php?query=pentamerone%20AND%20collection%3Atoronto

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O que é a Páscoa

Texto de Luís Fernando Veríssimo, em homenagem à Páscoa que está chegando.



- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
- Igual ao Natal?
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
- O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era... era melhor sim... ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia ele morreu?
- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
- Que dia e que mês?
- (???)
- Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
- Um dia depois!
- Não três dias depois.
- Então morreu na Quarta-feira.
- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no Sábado?
- Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- Ui...
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Ai coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!


quarta-feira, 16 de março de 2011

Chapeuzinho Vermelho - Grimm


E esta é a versão dos Irmãos Grimm, de 1813/1815. Vejam as diferenças:

Era uma vez uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela. A avó, então, a adorava, e não sabia mais que presente dar a criança para agradá-la. Um dia ela presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho.
O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar com ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho Vermelho.
Um dia sua mãe lhe chamou e lhe disse:
- Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó. Ela está doente e fraca, e isto vai fazê-la ficar melhor. Comporte-se no caminho, e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho e ele é muito importante para a recuperação de sua avó.
Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mãe e, pegando a cesta com o bolo e o vinho, despediu-se e partiu.
Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila.
Logo que Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente.
Como ela não o conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, não sentiu medo algum.
- Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo.
- Bom dia, Lobo - ela respondeu.
- Aonde você vai assim tão cedinho, Chapeuzinho?
- Vou à casa da minha avó.
- E o que você está levando aí nessa cestinha?
- Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de bolo que a mamãe fez ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá-la forte e saudável.
- Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora?
- A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e é cercada por uma sebe de aveleiras. Você deve conhecer a casa.
O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu agir rápido, posso saborear sua avó e ela como sobremesa”.
Então o Lobo disse:
- Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por quê você não dá uma olhada? Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só caminha olhando para frente. Veja quanta beleza há na floresta.
Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as árvores, e viu como o chão estava coberto com lindas e coloridas flores, e pensou: "Se eu pegar um buquê de flores para minha avó, ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu não vou me atrasar”.
E, saindo do caminho, entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via outra mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada vez mais.
Enquanto isso, o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta.
- Quem está aí? - perguntou a velhinha.
- Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho. Abra a porta para mim.
- Levante a tranca, ela está aberta. Não posso me levantar, pois estou muito fraca. - respondeu a vovó.
O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó, e a engoliu antes que ela pudesse vê-lo. Então ele vestiu suas roupas, colocou sua touca na cabeça, fechou as cortinas da cama, deitou-se e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho.
E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando não podia mais carregar nenhuma é que retornou ao caminho da casa de sua avó.
Quando ela chegou lá, para sua surpresa, encontrou a porta aberta.
Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tão estranho que pensou: "Oh, céus, por quê será que estou com tanto medo? Normalmente eu me sinto tão bem na casa da vovó...”.
Então ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada com sua touca cobrindo parte do seu rosto, e, parecia muito estranha...
- Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! - disse então Chapeuzinho.
- É para te ouvir melhor.
- Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!
- É para te ver melhor.
- Oh, vovó, que mãos enormes a senhora tem!
- São para te abraçar melhor.
- Oh, vovó, que boca grande e horrível à senhora tem!
- É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa menina, e a engoliu de um só bote.
Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a roncar muito alto. Um caçador que ia passando ali perto escutou e achou estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então ele decidiu ir dar uma olhada.
Ele entrou na casa e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito tempo.
E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela ainda possa ser salva. Não posso atirar nele”.
Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo.
Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais, e a menina pulou para fora exclamando:
- Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro!
E assim, a vovó foi salva também.
Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou dentro da barriga do lobo.
Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesadas que ele caiu no chão e morreu.
E assim, todos ficaram muito felizes.
O caçador pegou a pele do lobo.
A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e Chapeuzinho disse para si mesma:
“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta”.

(conto retirado de: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2056&cat=Infantil)

Chapeuzinho Vermelho - Perrault


Esta é a versão de Charles Perrault, de 1967, de Chapeuzinho Vermelho:

Havia, numa cidadezinha, uma menina que todos achavam muito bonita. A mãe era doida por ela e a avó mais ainda. Por isso, sua avó lhe mandou fazer um pequeno capuz vermelho que ficava muito bem na menina. Por causa dele, ela ficou sendo chamada, em toda parte, de Chapeuzinho Vermelho.
Um dia em que sua mãe tinha preparado umas tortas, disse para ela:
 – Vai ver como está passando tua avó, pois eu soube que ela anda doente. Leva uma torta e um potezinho de manteiga.
Chapeuzinho Vermelho saiu em seguida para ir visitar sua avó que morava em outra cidadezinha.
Quando atravessava o bosque, ela encontrou compadre Lobo que logo teve vontade de comer a menina. Mas não teve coragem por causa de uns lenhadores que estavam na floresta.
O Lobo perguntou aonde ela ia. A pobrezinha, que não sabia como é perigoso parar para escutar um Lobo, disse para ele:
– Eu vou ver minha avó e levar para ela uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe está mandando.
– Ela mora muito longe? – perguntou o Lobo.
– Oh! sim, – respondeu Chapeuzinho Vermelho. – É pra lá daquele moinho que você está vendo bem lá embaixo. É a primeira casa da cidadezinha.
– Pois bem, – disse o Lobo, – eu também quero ir ver sua avó. Eu vou por este caminho daqui e você vai por aquele de lá. Vamos ver quem chega primeiro.
O Lobo pôs-se a correr com toda a sua força pelo caminho mais curto. A menina foi pelo caminho mais longo, distraindo-se a comer avelãs, correndo atrás das borboletas e fazendo ramalhetes com as florzinhas que encontrava.
O Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. Bateu na porta: toc, toc.
– Quem está aí?
– É sua neta, Chapeuzinho Vermelho – disse o Lobo, mudando a voz. Eu lhe trago uma torta e um potezinho de manteiga que minha mãe mandou pra você.
A bondosa avó, que estava na cama porque não passava muito bem, gritou:
– Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
O Lobo puxou a tranca e a porta se abriu. Ele avançou sobre a pobre mulher e devorou-a num instante, pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e foi se deitar na cama da avó. Ficou esperando Chapeuzinho Vermelho que, um pouco depois, bateu na porta: toc, toc.
– Quem está aí?
Chapeuzinho Vermelho, ao escutar a voz grossa do Lobo, teve medo, mas pensando que a voz de sua avó estava diferente por causa do resfriado, respondeu:
– É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz uma torta pra você e um potezinho de manteiga que minha mãe lhe mandou.
O Lobo gritou para ela, adocicando um pouco a voz:
– Puxe a tranca que o ferrolho cairá.
Chapeuzinho Vermelho puxou a tranca e a porta se abriu.
O Lobo, vendo que ela tinha entrado, escondeu-se na cama, debaixo da coberta, e falou:
– Ponha a torta e o potezinho de manteiga sobre a caixa de pão e venha se deitar comigo.
Chapeuzinho Vermelho tirou o vestido e foi para a cama, ficando espantada de ver como sua avó estava diferente ao natural. Disse para ela:
– Minha avó, como você tem braços grandes!
– É pra te abraçar melhor, minha filha.
– Minha avó, como você tem pernas grandes!
– É pra correr melhor, minha menina.
– Minha avó, como você tem orelhas grandes!
– É pra escutar melhor, minha menina.
– Minha avó, como você tem olhos grandes!
– É pra ver melhor, minha menina.
– Minha avó, como você tem dentes grandes!
– É pra te comer.
E dizendo estas palavras, o Lobo saltou pra cima de Chapeuzinho Vermelho e a devorou.

MORAL:
Vimos que os jovens,
Principalmente as moças,
Lindas, elegantes e educadas,
Fazem muito mal em escutar
Qualquer tipo de gente,
Assim, não será de estranhar
Que, por isso, o lobo as devore.
Eu digo o lobo porque todos os lobos
Não são do mesmo tipo.
Existe um que é manhoso
Macio, sem fel, sem furor.
Fazendo-se de íntimo, gentil e adulador,
Persegue as jovens moças
Até em suas casas e seus aposentos.
Atenção, porém!
As que não sabem
Que esses lobos melosos
De todos eles são os mais perigosos.

(conto retirado de: http://www.dubitoergosum.xpg.com.br/a7.htm)

quarta-feira, 9 de março de 2011

O que você já aprendeu na escola

Recebi esse texto por e-mail. Não sei quem é o autor, mas é muito interessante.


Fique calmo.
Você tem cinco anos de idade e só queremos que você sente nesta cadeira desconfortável por 5 horas.
Não começaremos por tanto tempo. No início há mais intervalos e períodos lúdicos. Vamos aumentando aos poucos.
Portanto, fique calmo.
Amanhã você também sentará nesta cadeira desconfortável por mais algum tempo.
De segunda a sexta e, às vezes, no sábado também. Embora por menos tempo.
E quando finalmente aprender a sentar nesta cadeira desconfortável por cinco horas, lá na frente estará um sujeito que falará durante as cinco horas sobre assuntos que, possivelmente, não interessam a você.
Não é culpa dele. Talvez nem ele saiba mais o que está fazendo ali.
Pois ele, antes de você, já teve a fase em que sentou-se, durante anos, em uma cadeira desconfortável durante cinco horas, ouvindo alguém falar sobre coisas que não lhe interessavam.
E, depois de passar por um processo desses, repetidamente, é bem possível que ele já não ligue mais para isso. Note como ele fala calmamente.
Assim, fique calmo.
Você não está aprendendo Matemática. Não está aprendendo Língua Portuguesa. Não está aprendendo Ciências. Isso é só a fachada.
O currículo está para o verdadeiro ensino como o restaurante sem movimento está para a lavagem de dinheiro de algum negócio ilícito. É só a fachada.
O que você aprende de verdade é que você deve suportar situações insuportáveis por períodos longos do seu dia, repetidamente ao longo de anos de sua vida.
A cadeira desconfortável em que você se senta por milhões de minutos está moldando sua bunda para o que bilhões de adultos costumam chamar de cotidiano.
Esse aprendizado tornará mais fácil e cômodo aceitar aquilo que se espera de você daqui a alguns anos.
E o cara lá na frente é uma espécie de boneco de treinamento. A exemplo dos simuladores, ele não pode feri-lo de verdade. Mas está condicionando você para a coisa mais importante nesta vida:
RESPEITAR A AUTORIDADE. A AUTORIDADE SÓ FALA A VERDADE.
E, pode acreditar, você terá oportunidade de respeitá-la e também de ser autoridade, às vezes simultaneamente, às vezes como boneco de treinamento. Ser, nessa máquina, uma engrenagem. Que é movida mas que move também
Sem respeito à autoridade, o mundo como o conhecemos não funciona. E todo o mundo sabe como o mundo, tal e qual o conhecemos, é ótimo. Todos o adoram. Ninguém quer engrenagens que se movam em algum sentido inesperado.
Então. Fique calmo. E sentado.
Outra coisa importante: errar é horrível.
Esperamos que você só acerte nesta vida.
Sabemos que ter medo de errar prejudica a criatividade, pois a criatividade presume eventuais erros.
Mas também ninguém espera que todo o mundo seja criativo. Afinal, o que seria da autoridade se todo o mundo começasse a ser criativo e tivesse liberdade para errar sem medo?
Assim, mais fachada: parece bonito ensinar alguém a só acertar, mas de verdade o que você tem que aprender mesmo é o medo de errar.
O mercado não admite erros.
Não havíamos tocado neste assunto, ainda.
O mercado.
Mas saiba que o mercado é a cola que une a sua bunda a essa cadeira desconfortável. Afinal, você precisa, um dia, ser capaz de ser um empregado e fazer parte do mercado.
É por isso que você está sentado. Sentado e calmo.
Fique calmo.
E, depois de anos de cadeira, ouvindo alguém falar de coisas que não lhe interessam em absoluto, você passará por uma coisa chamada vestibular.
O vestibular verifica se você ouviu e absorveu o suficiente de coisas desinteressantes e se, assim, será capaz de, mais tarde, vender seu tempo para projetos que também não lhe interessam necessariamente. E, assim, ser um empregado exemplar.
Isso tudo depende de:
  • sua capacidade de ficar sentado em uma cadeira desconfortável, que indica sua predisposição a suportar situações insuportáveis
  • sua capacidade de não questionar a autoridade, tão firmemente desenvolvida e fixada ao longo de anos que você nem a percebe
  • sua capacidade de se interessar por assuntos que não o interessam realmente, que é uma espécie de auto-engano que as grandes empresas costumam chamar hoje de proatividade e de sinergia
Se você tiver absorvido tudo isso, certamente passará no vestibular. Muito embora – e mais uma vez entramos no tema da fachada – o vestibular pareça medir coisas como Matemática, Língua Portuguesa e Ciências.
Podemos concluir, grosso modo, que quanto mais concorrida a vaga de um curso, mais ela exige das três capacidades acima arroladas.
Matemática, Língua Portuguesa e Ciências são índices apenas. Na verdade, estão para o verdadeiro ensino como o hambúrguer está para o cadáver do boi.
Ainda assim, FIQUE CALMO.
Sim. Finalmente, você entrou em uma faculdade.
PARABÉNS!
Mais alguns anos de cadeira desconfortável. Só para garantir.
Mas agora você não precisa ficar sentado nela durante tanto tempo. Não é preciso. Seu espírito já se dobrou. Possivelmente, ele está sentado neste momento, suportando alguma situação insuportável, mesmo quando você está em pé.
Bem calmo.
É bem provável que essa faculdade em que você entrou tenha como slogan algo semelhante a “preparamos para o mercado” com a foto de um modelo sorridente abaixo.
Não confunda: ele não é um estudante da instituição, mas os dentes daquele sorriso são o mercado.
Para as fachadas mais humanas, o slogan é algo como “preparamos para a vida”. Que, considerando que vida e mercado hoje são quase sinônimos, dá na mesma.
“Preparamos cidadãos” – e seus equivalentes – quer dizer “ensinamos você a usar o Procon”. Porque, no mercado, o bom cidadão é o consumidor. Talvez a única vez que você tenha questionado o sujeito que fala coisas desinteressantes lá na frente tenha sido dizendo algo como: “Ei, eu pago o seu salário! Sou um consumidor!”. Parabéns, você aprende rápido.
Pois se você é incapaz de consumir, não é um cidadão de primeira classe. Talvez nem seja um cidadão.
E o mercado pede que você seja um cidadão. E o máximo a que o seu questionamento será capaz de chegar irá até estas três letrinhas: SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor).
Se as empresas quisessem atender pessoas, colocariam gente de verdade atendendo aos telefonemas. E não gravações ou outras pessoas lendo scripts e preparadas pelo mercado.
Por isso, o mercado – de olho no futuro – cola sua bunda à cadeira desconfortável durante horas.
Para aprender a suportar situações insuportáveis, respeitar a autoridade e para nivelar sua criatividade tão aceitavelmente quanto a volúpia de um gato castrado.
Para que assim, um dia, você possa contribuir e, só então, consumir: realimentando o processo.
Eu sei que, aos cinco anos de idade, é difícil entender o que está acontecendo.
Mas peço que você, por alguns instantes e nos seguintes, FIQUE CALMO.
Em alguns anos você vai aceitar tudo perfeitamente.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Marcovaldo: O bosque da rodovia - Ítalo Calvino


O frio possui mil formas e mil modos de se movimentar no mundo: no mar corre como uma manada de cavalos, no campo se lança como uma nuvem de gafanhotos, na cidade, como a lâmina da faca, corta os caminhos e atravessa as frestas das casas não aquecidas. Na casa de Marcovaldo, naquela noite, havia acabado os últimos pedaços de lenha, e a família, toda encapotada, olhava na lareira o final da brasa se apagar, e das suas bocas as fumacinhas que saíam a cada respiro. Não falavam mais nada, as nuvenzinhas falavam por eles. A mulher as lançava longas, longas como suspiros; os filhos as expiravam absortos como se fossem bolas de sabão; e Marcovaldo as expelia para o alto aos pulos como relâmpagos que logo desapareciam.
Por fim Marcovaldo se decidiu: – Vou atrás de lenha, quem sabe se não encontro um pouco. – Colocou quatro ou cinco jornais entre o casaco e a camisa para servir de escudo contra as investidas do vento, escondeu debaixo do casaco um longo serrote, e assim saiu pela noite, seguido pelos longos olhares esperançosos de sua família, lançando ruídos a cada passo e com o serrote que de vez em quando mostrava a ponta pela gola do casaco.
Ir atrás de lenha pela cidade: que nada! Marcovaldo se dirige logo para um pedaço de jardim público que ficava entre duas ruas. Tudo estava deserto. Marcovaldo analisava as nuas plantas uma a uma pensando na família que o esperava rangendo os dentes...
O pequeno Miguelzinho, rangendo os dentes, lia um livro de fábulas, pego emprestado da biblioteca da escola. O livro falava de um menino, filho de um lenhador, que saia com um machado, para pegar lenha no bosque. – Olha onde é preciso ir, – disse Miguelzinho – no bosque! Ali sim que tem lenha! – Nascido e crescido na cidade, nunca tinha visto um bosque, nem de longe.
            Dito e feito, combinou com os irmãos: um pegou o machado, um o gancho, outro uma corda, despediram-se da mamãe e saíram a procura de um bosque.
            Caminharam pela cidade iluminada pelos lampiões e não viam nada além de casas. De bosques, nem a sombra. Encontraram alguns raros pedestres, mas não ousavam perguntar-lhes onde havia um bosque. Assim chegaram no ponto onde acabavam as casas da cidade e a rua se tornava uma rodovia.
            Dos lados da rodovia, os meninos viram o bosque: uma abundante vegetação de árvores estranhas cobria a vista do horizonte. Tinham os troncos muito finos, retos e tortos, e as copas chatas e extensas, com as mais estranhas formas e as mais estranhas cores, quando um carro passando as iluminava com os faróis. Ramos no formato de pasta de dentes, de rosto, de queijo, de mão, de barbeador, de garrafa, de vaca, de pneu, cobertos por uma folhagem com letras do alfabeto.
            – Eba! – disse Miguelzinho – Este é o bosque!
            E os irmão olhavam encantados a lua surgir entre aquelas estranhas sombras: – Como é bonito...
            Miguelzinho logo os chamou de volta ao motivo pelo qual estavam ali: a lenha. Assim abateram uma arvoreta com forma de uma flor amarela, fizeram-na em pedaços e a levaram a casa.
            Marcovaldo voltava com a sua pequena carga de ramos úmidos e encontrou a lareira acesa.
            – Onde vocês o pegaram? – exclamou indicando os restos de outdoor que, sendo de madeira compensada, queimava muito mais rápido.
            – No bosque! – responderam as crianças.
            – E que bosque?
            – Aquele na rodovia. Está cheio disso!
            Vendo que era tão fácil assim, e que precisavam de novo de mais lenha, valia a pena seguir o exemplo dos meninos. Marcovaldo saiu de novo com o seu serrote e foi até a rodovia.
            O agente Astolfo, da polícia rodoviária, era um pouco míope e à noite, correndo na moto durante o seu trabalho, precisaria usar óculos, mas não revelava isso por medo de ser prejudicado na sua carreira.
            Naquela noite, foi denunciado o fato de que, na rodovia, um bando de moleques estava derrubando os outdoors. O agente Astolfo partiu para inspecionar.
            Nos lados da rodovia, a selva de figuras estranhas, sugestivas e gesticulantes acompanhava Astolfo, que as observava uma a uma, revirando os olhos míopes. Eis que, de repente, à luz do farol da moto, surpreendeu um moleque pendurado em um outdoor. Astolfo parou: – Ei, você! O que faz aí? Saí logo daí! – Aquele não se mexeu e lhe mostrou a língua. Astolfo se aproximou e viu que era a propaganda de um queijo, com um garotinho que lambia os beiços. – Ah, certo. – disse Astolfo e partiu em grande velocidade.
            Um pouco depois, na sombra de um grande cartaz, ele iluminou um triste rosto assustado. – Alto lá! Não tente fugir! – Mas ninguém fogiu: era um rosto humano com sinais de dores pintado no meio de um pé cheio de calos: a propaganda de um anticalos. – Oh, foi mal – disse Astolfo e foi embora.
            A propaganda de um comprimido contra enxaqueca era uma gigantesca cabeça de homem, com as mãos nos olhos pela dor. Astolfo passou e o farol iluminou Marcovaldo pendurado em cima do outdoor enquanto, com o seu serrote, tentava cortar um pedaço de madeira. Cego pela luz, Marcovaldo ficou encolhido e imóvel, pendurado em uma orelha daquela cabeça, com o serrote que já havia chegado no meio da testa.
            Astolfo analisou bem a cena e disse: - Ah, sim: comprimidos Estapa! Uma propaganda eficaz! Muito bem bolada! Aquele homenzinho lá em cima com o serrote corresponde à dor de cabeça, que corta a cabeça ao meio! Eu entendi na hora! – E foi embora satisfeito.
            Tudo era silêncio e gelo. Marcovaldo deu um suspiro de alívio, se arrumou no desconfortável tripé e retomou o seu trabalho. No céu iluminado pela lua se propagava o abafado rumor do serrote contra a lenha.



Conto retirado do livro Marcovaldo ovvero le stagioni in città ou Marcovaldo ou as estações na cidade. Tradução minha.