sexta-feira, 1 de março de 2013

Petroselina


Tradução do conto “Petrosinella”, de Giambattista Basile, publicado em “Lo cunto de li cunti (Il Pentamerone). Volume I”. Tradução: Ana Lucia Rizzi Fiori


Era uma vez uma mulher grávida chamada Pascadósia. Um dia, ela se debruçou na janela que dava para o jardim de uma ogra e viu uma bela plantação de salsinha, e ficou com um desejo tão grande de comer aquela salsinha que quase desmaiou. Até que, não conseguindo mais resistir, e espiando a ogra sair de casa, foi até lá e colheu um raminho. Mas quando a ogra voltou, foi colher salsinha e percebeu que alguém havia passado por ali, e disse: – Que me caia o osso do colo se eu não descubro esse ladrão e o faço se arrepender, para aprender a não pegar o que não é seu. – Mas, como Pascadósia continuou indo à horta, uma manhã, ela foi surpreendida pela ogra, que, furiosa, disse-lhe: – Peguei você, sua ladra! Talvez devesse pagar pelo aluguel desta horta, a qual vem sem escrúpulos para pegar as minhas ervas? – Pascadósia começou a se desculpar, dizendo que não foi por gula ou inveja que ela cometeu esse pecado, mas porque estava grávida, e estava com medo que o bebê nascesse com cara de salsinha, e deveria ainda agradecer por não ter recebido nem mesmo um terçol.
 – Basta com essas palavras! – respondeu a ogra. – Você não vai me fazer cair nessa sua conversa mole. Sua vida chegará ao fim se não me prometer que me dará a criatura que irá parir, menino ou menina que seja.
A pobre Pascadósia, para fugir do perigo imediato, fez essa promessa a ela, e assim a ogra a deixou partir.
Quando chegou o momento do parto, nasceu uma menina tão linda, que era uma pequena joia, e por ter no peito um raminho de salsinha, foi chamada de Petroselina. A garota foi crescendo dia após dia e, quando fez 7 anos, a mãe a mandou até sua professora. Todo dia, no caminho para lá, ela encontrava uma ogra, que dizia: – Diga a sua mamãe para lembrar-se da promessa! – E tantas vezes repetiu isso que a pobre mamãe, não suportando mais essa mesma história, uma vez lhe disse: – Se encontrar essa velha e ela lhe falar dessa maldita promessa de novo, responda-lhe: “Pegue-a!”
Petroselina, que não sabia da promessa, ao encontrar a ogra que lhe repetiu a mesma frase, inocentemente respondeu o que lhe foi dito por sua mãe, e a ogra, pegando a garota pelos cabelos, levou-a até um bosque no qual não entravam nunca os cavalos do Sol, e ali, no meio da sombra, trancou-a em uma torre, que fez surgir com mágica, sem portas, sem escadas, com uma única janela, por meio da qual, agarrando os cabelos de Petroselina, que eram muito longos, a ogra subia e descia.
Um dia, quando a ogra não estava na torre, Petroselina pôs a cara para fora daquele buraco e estendeu as tranças ao sol. Nesse momento, passou por ali o filho de um príncipe que, ao ver as duas bandeiras de ouro, que convidavam as almas a participarem do exército do Amor, e admirando entre aquelas ondas preciosas uma face de sereia, que encantava qualquer coração, se apaixonou por tamanha beleza. E enviando-lhe um sem número de suspiros, foi decretado que a fortaleza se rendesse a sua graça. E o encontro deles andou tão bem que o príncipe recebeu muitos acenos de cabeça em troca de beijos enviados pelas mãos, piscadinhas em troca de reverências, agradecimentos em troca de propostas, esperança em troca de promessas e palavras gentis em troca de comprimentos. A coisa continuou assim por alguns dias, e eles ganharam tanta confiança que decidiram se encontrar mais de perto. Mas isso deveria acontecer de noite, a garota daria um sonífero à ogra e o puxaria com seus cabelos.
Após decidido isso, na hora combinada, o príncipe chegou à torre e deu um assobio para Petroselina jogar suas tranças, agarrou-as com as duas mãos e disse: – Puxe! – E, ao subir, entrou pela janela no quarto, fez um lanchinho com salsa no molho do amor e, antes que o sol nascesse, desceu pela mesma escada de ouro. Isso se repetiu muitas vezes, até que uma comadre da ogra descobriu e, querendo se meter onde não era chamada, disse à ogra para ficar atenta, porque Petroselina fazia amor com um certo jovem e ela suspeitava que a coisa fosse ainda além, porque ouvia os barulhos e via a movimentação ali, e tinha certeza que, se tivessem a oportunidade, desapareceriam dali antes do mês de maio.
A ogra agradeceu a comadre pelo aviso e disse que seria problema seu impedir os planos de Petroselina. Disse também que não seria possível que a garota fugisse porque ela havia lançado um encantamento, e se a garota não tivesse nas mãos três bolotas que estavam escondidas sob o piso da cozinha, seria uma perda de tempo. Mas, enquanto elas conversavam, Petroselina, que estava com o ouvido bem aberto e já tinha suspeitas sobre a comadre, ouviu toda a conversa; e assim que a noite chegou, o príncipe veio como sempre. Ela o fez subir e, encontrando as bolotas, as quais sabia como usar por ter sido encantada pela ogra, fez uma escada de barbante e os dois desceram e começaram a caminhar em direção à cidade. Mas eles foram vistos enquanto saiam pela comadre, que começou a gritar chamando a ogra, e o barulho foi tão grande que ela acordou e, ouvindo que Petroselina tinha fugido, desceu pela mesma escada que estava presa à janela e começou a correr atrás dos namorados.
Os dois, quando a viram chegar perto mais rápida que um cavalo bravo, se sentiram perdidos, mas, lembrando-se Petroselina das três bolotas, jogou rapidamente uma no chão, e eis que surgiu um cão muito terrível que, latindo com a boca enorme aberta, correu atrás da ogra para fazer uma boquinha. Mas ela, que era mais esperta que o diabo, pôs a mão no bolso, retirou um pão e, jogando-o ao cão, fê-lo se calar e acalmar a fúria.
 Ela voltou a correr atrás daqueles que fugiam, e Petroselina, vendo-a se aproximar, jogou a segunda bolota, e apareceu um leão feroz que, batendo a cauda no chão e balançando a juba, com dois palmos de boca escancarada, se preparava para engolir a ogra. Esta, voltando um pouco, arrancou a pele de um burro que pastava em um prado e, vestindo essa pele, correu de novo em direção ao leão que, ao vê-la daquele jeito, ficou com medo e fugiu. Superando esse segundo obstáculo, a ogra tornou a seguir os pobres jovens que, ouvindo os barulhos dos passos e vendo a nuvem de poeira que se erguia até o céu, perceberam que a ogra novamente se aproximava. Ela, por medo que o leão voltasse a persegui-la, não tirou a pele do burro, e quando Petroselina jogou a terceira bolota, surgiu um lobo que, sem dar tempo a ogra de encontrar um novo artifício, engoliu-a como se fosse um burro.
E os namorados, finalmente longe dos problemas, foram caminhando devagar até o reino do príncipe onde, com o consentimento deste, eles se casaram.